domingo, 12 de agosto de 2012

Quão finito é o infinito?

(peço desculpa por me ter alongado tanto!)


Há dias que ela estava deitada naquela cama reflectindo sobre tudo o que se passara. Via tudo de forma finita agora que a verdade lhe tinha sido revelada. Pensava na família, nos amigos, nas conquistas, nos sonhos, no namorado... Pensava se seria mais fácil abrir o jogo ou deixar que as águas acalmassem à medida que a sua vida se fosse, aos poucos, refazendo.
Estava tão centrada naquele dilema que não ouvira os passos que se aproximavam. Quando acordou daquele transe emocional olhou para os pés da cama e sorriu.

- Não te ouvi chegar.

Ele esboçou um sorriso branco e terno e encurtou o espaço que os separava.

- Quando cheguei parecias distante, pensativa, mas o teu rosto estava tão sereno que um simples olhar sobre ti apaziguou o ar à nossa volta. Como estás?
- Bem, ou não se nota? Estou pronta para outra.
- Não digas isso - reprimiu ele. - Não quero voltar a ter um susto destes. O que disse o médico?
- O médico... - disse ela hesitante - o médico disse que está tudo bem. Só preciso de ficar em observação mais uns dias e depois volto para casa.

As feições que, no rosto dele, haviam chegado carregadas e tensas mostravam agora a sua ligeireza e alivio perante aquelas palavras.
Ela sabia que era mentira, que ele merecia a verdade, tempo para se despedir, momentos para relembrar. No entanto ela não podia ser egoísta, colocar-lhe nas mãos aquele peso, ver e sentir no rosto dele a dor daquelas palavras transmitidas. Não podia.
Sentaram-se os dois lado a lado e conversaram durante horas. Ela recordava os momentos pelos quais tinham passado. Ele... fazia planos para o futuro.

Quando ele se despediu com um beijo na testa e a suavidade de um 'até amanhã' ela tomou uma decisão.
Pediu alta voluntária e abandonou o hospital no dia seguinte pela manhã.

Chamou um taxi que a deixou à porta de casa dele. Achava-se mais débil hoje e preferiu não ir a pé.
Entrou pela porta dos fundos e silenciosamente subiu as escadas até àquele quarto que lhe era tão familiar. Sentou-se aos pés da cama e viu aquele rosto de anjo, tão sereno e tranquilo, enquanto dormia. Não soube quanto tempo ali ficou a vê-lo dormir, mas simplesmente não lhe parecia suficiente. Suficiente para recordar a primeira vez que o vira correr juntos às águas geladas do mar em pleno Inverno, ou a primeira vez que ele a olhou nos olhos, ou a primeira vez que se beijaram. E mais uma vez pensou: É tudo tão finito.

Quando os pensamentos cessaram e o sol forte entrou pela janela aqueles olhos brilhantes despertaram e cilintaram de espanto.

- Que fazes aqui?
- Ora essa, tinha saudades.

Ele abraçou-a com toda a sua força, como se sentisse que algo não estava bem. No momento em que os seus lábios se voltaram a encontrar foi como se magia tivesse acontecido. O canto dos pássaros cessou, a corrente de ar que passava pela janela entreaberta findou e ficaram apenas eles no meio de uma leve brisa quente que lhes aquecia o coração e que intensificava a magnificiência daquele amor.

- Que tal um piquenique no parque?
- Não teria pensado melhor - respondeu ele com um sorriso resplandecente.

Enquanto ele tomava banho e se vestia ela sentou-se na cadeira perto da janela observando cada promenor, por mais ordinário que fosse, daquele quarto temendo perder todas as suas recordações, temendo perder aquele amor que lhe enchia o peito e que, a cada segundo, lhe relembrava o significado da palavra felicidade.

Saíram de casa de mão dadas com um cesto de piquenique a acompanhar.
O sol brilhava de uma forma que ela nunca antes tinha visto. Ou talvez veja as coisas de forma diferente agora. Com mais intensidade.

Desceram a rua até ao parque e, à sombra de uma árvore, estenderam uma grande toalha - daquelas que fazem relembrar o verdadeiro e tradicional piquenique.
Estavam a sentar-se quando ela sentiu, de repente e sem aviso prévio, um tremor nas pernas que a fez perder o equilibrio e tombar sobre a relva verde acabada de cortar.

- Então, estás bem? Sentes-te bem? - Perguntou ele, já nervoso, com aquele ar aflito que lhe recordava o motivo pelo qual não lhe poderia contar a verdade.
- Estou sim, não te preocupes. Escorreguei na relva molhada. Tu sabes o quanto sou desastrada - retorquiu ela por entre gargalhadas.

Ele agarrou nela e deitou-a sobre aquela toalha - que naquele exato momento lhe parecia mais suave que a própria seda.
Ela deitou-se no colo dele e disse:

- Lembras-te da primeira vez que disse que te amo?
- Como me podia esquecer. Lembro-me perfeitamente da forma como o meu coração acelerou, de como o meu estômago ficou irrequieto, de como as minhas pernas começaram a perder a força, da forma como o meu respirar se intensificou... Foi um dos momentos mais importantes da minha vida - afirmou ele como que relembrando aquele momento e todas aquelas sensações que eram sempre tão bem-vindas.
- Prometes que nunca te vais esquecer? Sabes, desse momento, dessas sensações? - Insistiu ela.
- Que pergunta é essa? Como seria possível esquecer-me de ti? Essas sensações, esses momentos, são todos eles representados por ti, por nós.
- Sabes, quando te vi pela primeira vez pensei que nunca um rapaz como tu viria a gostar de uma rapariga como eu. Nunca te disse mas, durante dias, fiquei a observar-te a correr na praia. Por vezes imaginava que no fim dessa corrida seria eu a estar lá a tua espera, que era por mim que corrias. Demorei tanto a ter coragem para te falar. Tinha medo de querer o que não podia ter - disse ela por entre lágrimas. - E, agora, olha todos os momentos, todos os sentimentos, todas as emoções que partilhamos juntos. Tu és muito mais do que algum dia sonhei, és muito mais do que aquilo que um dia julguei poder ter.
- Porque é que me parece que te estás a despedir?
- Que ideia mais disparatada - disse ela por detrás de um sorriso tímido. - Ouve, só quero que saibas que te amo, que nunca vou esquecer o que significas para mim e que jamais perderei todas as memórias que criamos juntos. E quero que faças o mesmo, ainda que um dia se torne demasiado doloroso.

Naquele momento uma dor arrebatou-lhe o peito... Sentia o coração a contrair-se demasiado devagar, os pulmões a esforçarem-se para permitir a entrada de ar e o seu pensamento retomava aqueles olhos tão sérios e assustados que a fitava. Colocou a mão no seu rosto e pediu:

- Não te esqueças do meu amor.

Aquelas palavras, aquela última réstia de força, haviam sido para ele e não paravam de fazer replay no seu pensamento enquanto ela, deitada sobre o seu colo, encostada sobre o seu peito, sentia as forças abandonarem o seu corpo, o seu coração a ceder e os seus pensamentos a desvanecer.

- Não! - Gritou ele em desespero. - Não, por favor, abre os olhos para mim, meu amor. Não! Não!

Enquanto olhava para o corpo dela inerte junto ao seu repetia aquelas últimas palavras em pensamento. Aqueles olhos que sempre o tinham prendido, aquele respirar que sempre o arrepiara, aquela voz meiga que sempre o aconchegara, estavam perdidos. Aquela mulher que o amava, aquela mulher que ele amava tinha partido e não havia nada que ele pudesse fazer para a ter de volta.

- Eu Amo-te, e nunca me esquecerei de ti, ou do teu amor, ou de cada um dos nossos momentos... Mas não me podes pedir que viva num mundo onde não te posso abraçar...

5 comentários:

  1. oh bolas Andreia... Estou a chorar..
    Oh Amor... Ta tao lindo.. Tao lindo..
    Nao tenho palavras....

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    1. Mesmo? Gostas? De verdade?

      Eu ainda não sei bem o que acho :S

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  2. a serio Amor... ta tao intenso.
    Aii.... Amei.

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    1. Sério?
      Não sinto como sentia dantes quando escrevia. Mas pelo menos já é um começo :)

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  3. Se as pessoas lerem desde o inicio até ao fim... vão Amar..

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