Mostrar mensagens com a etiqueta História. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta História. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sussurro ao mar #38


Os dias passavam a correr e finalmente, o momento que, há meses, eu esperava chegara: o dia do meu casamento. A minha mãe não aceitou vir, ainda se encontra aborrecida pela minha decisão de ter ficado por cá. A irmã de Tiago ficou a preparar as meninas enquanto a mãe dele me ajudava a vestir. Sempre achei que seria exigente demais com o meu vestido e que demoraria uma eternidade para encontrar o ideal, mas não, assim que o vi apaixonei-me e assim que o vesti senti que era aquele, que era o tal… As minhas lágrimas tinham surgido naquele momento. Enquanto a cabeleireira penteava o meu cabelo e me maquilhava eu sentia aquele nervoso miudinho percorrer o meu corpo. Será que Tiago também se sentia dessa forma?
Quando finalmente fiquei pronta olhei-me ao espelho apercebendo-me que o momento estava a chegar rapidamente. A irmã de Tiago entrou no quarto trazendo as minhas princesas. Ambas vestiam um pequeno vestidinho cor-de-rosa com um pequeno lacinho a debruar-lhes o cabelo loiro e encaracolado. Sorri para elas e dei-lhes um pequeno beijinho no nariz. O brilho dos olhinhos delas diziam que gostavam da forma como a mamã estava, que sentiam a minha felicidade e o quanto aquele momento era importante para a nossa família. Avisaram-me que Tiago já havia saído e que dentro de cinco minutos chegaria à igreja. Os nervos começavam a instalar-se apressadamente e eu sentia aquela sensação de arrepio no estômago.
O meu carro esperava-me e eu saí com ambas as meninas. O meu pai já me esperava pois levar-me-ia ao altar. O caminho que percorremos até à igreja foi desgastante com tantas energias a percorrerem-me, ainda assim fui capaz de lá chegar completamente perfeita. As portas da igreja abriram-se fazendo ressoar o som que demonstrava a sua antiguidade. Olhei para o fundo da igreja e perto do altar lá estavas tu, lindo, estonteante e magnetizante. Comecei a avançar ao som da música nupcial e quando as nossas mãos se tocaram tudo à nossa volta brilhou como um mar de estrelas. Sorrimos um para o outro, um sorriso verdadeiro e leal, um sorriso que demonstrava a nossa felicidade e uma lágrima que mostrava a nossa emoção.
Foi um momento perfeito, com toda a popa e circunstância. Saímos da igreja recebendo uma ovação de pétalas de flores e arroz. O beijo que demos foi mais especial do que todos os outros que havíamos trocado.
Eu estava feliz, não conseguia aguentar tanta felicidade dentro de mim. Partimos em direcção à quinta onde iríamos, de certa forma, comemorar este grande acontecimento. Enquanto eu segurava Anita Tiago segurava Ariana. Elas estavam a crescer a olhos vistos, lindas e cada vez mais parecidas connosco. Quando chegou a altura de tirar as fotografias as meninas não nos queriam largar por esse mesmo motivo foram connosco sendo as estrelas daquele momento. Ali, enquanto eu segurava as minhas filhas e tinha o meu marido a meu lado apercebi-me que a minha família estava finalmente criada e que eu não podia sentir-me mais feliz.
Sou uma mulher de sorte não sou?

Fim

terça-feira, 22 de março de 2011

Sussurro ao mar #37


Os dois dias passaram a correr. A ansiedade tomava conta de mim e eu só queria voltar a segurar a minha menina nos meus braços. A verdade é que estas semanas sem ela foram dolorosas e eu não queria negligenciar Anita. Eu e Tiago saímos de casa juntamente com Anita e dirigimo-nos para o hospital com um sorriso de orelha a orelha. Porém, sentia que algo não estava bem. Sentia o meu coração a apertar cada vez mais à medida que nos aproximávamos do hospital e receava que o mundo voltasse todo a desabar à minha volta. Eu e Tiago esperávamos as melhoras da menina para começarmos a preparar o nosso casamento, seria um passo tão especial para nós e para a nossa família... Entrei no hospital reticente, não sabia o que iria ouvir, o que deveria esperar. Tiago sentou-se com Anita enquanto eu me dirigi à recepção perguntando pela doutora que estava a tratar de Ariana. Foi-me dito que dentro de momentos ela se encontraria ali para falar connosco. O meu coração começou a acelerar e eu senti um arrepio a percorrer o meu corpo. Sentei-me ao lado de Tiago, muito hirta. Preocupada.

- O que é que se passa amor, estás bem? Pareces pálida.
- Desculpa querido, é que... tenho um pressentimento estranho. Receio que algo corra mal e que não possamos levar a menina para casa hoje.
- Oh princesa, é natural que te sintas assim, é a nossa bebé. Talvez te estejas a preocupar em vão. Dentro de momentos a doutora estará aqui e verás que não vão haver quaisquer entraves. - Fiquei calada. As palavras dele haviam acalmado levemente o meu coração e respirei de alivio, permitindo-me relaxar um pouco. Porém, não deixei que a preocupação cessasse. Vi a doutora a aproximar-se pelo nosso lado direito. Acho que, de certa forma, entrei em pânico.

- Leonor, Tiago podem-me acompanhar por favor. - Eu estava tão aterrorizada que nem respondi.
- Claro doutora - disse Tiago pacificamente.

Percorremos novamente aqueles corredores neutros. Espreitem pela janela e, inocentemente, soltei um suspiro de alívio. Ariana estava deitada numa pequena cama. As máquinas tinham sido retiradas o que significava que ela já era capaz de respirar sozinha. Eu e Tiago olhamo-nos nos olhos e formamos um sorriso alegre.

- Ela está óptima e pronta para voltar a casa. Teremos que marcar consulta para daqui a um mês, aproximadamente, para nos certificarmos de que está tudo a correr como previsto.
- Oh doutora, muito obrigado pelo seu empenho. Podemos leva-la já? - perguntei entusiasmada.
- Podem sim. Se quiserem trocar-lhe a roupinha estão a vontade. Vou deixar a alta na recepção, depois passem lá para leva-la.
- Com certeza doutora. Muito obrigado mais uma vez - disse Tiago com os olhos a brilhar de felicidade.

Vesti Ariana com um vestido cor-de-rosa igual ao de Anita. Agora a nossa família estava completa, nós os quatro, juntos novamente. Fomos a pé para casa. O caminho foi percorrido calmamente e em harmonia. Estavamos felizes, sentiamo-nos descansados e completos.

- O que achas de irmos passear com as meninas no parque? - perguntou Tiago entusiasmado.
- Acho uma ideia maravilhosa!

Continua...

terça-feira, 15 de março de 2011

Sussurro ao mar #36

Tiago tinha levado Anita para casa. Ela estava cansadinha, tínhamos passado o dia todo no hospital pois nenhum de nós queria deixar Ariana. Eu fiquei mais um pouco, queria conversar com a médica para saber como estava a evoluir o problema da bebé. Tinha a minha mão sobre a dela; ela dormia serena como sempre quando sentia a mãozinha dela apertar a minha. Sorri-lhe!

Força filhota - disse baixinho.

Encostei-me perto da pequena cama e fiquei a olhar para ela, a ouvi-la respirar, a sentir o toque quente da sua mão e atenta aos seus gracejos de bebé. Não queria abandona-la, não queria que ela pensasse que não me preocupava com ela pois era exactamente o contrário. Mas eu não posso deixar Anita sozinha, ela também precisa de mim, também precisa de amor, carinho e atenção; não só da parte do pai como da mãe também. Eu não queria escolher entre as minhas filhas - longe disso - nem o estava a fazer. Eu iria para casa e Tiago ficaria aqui ao seu lado, a protege-la e acarinha-la. Sem esperar Anita e Ariana aparecem a correr pela casa. Com dois aninhos os caracóis assentavam-lhes pelas costas loiros e reluzentes. Ambas dançavam no seu vestido cor-de-rosa, ambas com as madeixas do cabelo presas num lacinho perfeito que ia com os seus vestidos preferidos. Tiago corria atrás delas, brincando e saltando ao mesmo tempo que receava que alguma delas se magoasse; já havíamos passado por muito. Em uníssono viraram-se para mim com um sorriso traquina estampado no rosto e dizem: Mamã, Mamã o papá vai-nos ferrar. E desataram a correr novamente. Alegria nunca havia faltado desde que elas nascerem. Eu olhava-os orgulhosa da família que havia criado, feliz por tê-los sempre por perto. Ambas correram e saltaram para o meu colo abraçando-me com força.. Era um abraço especial, daqueles que apenas num aperto diziam Mamã, adoro-te. As lágrimas começaram a percorrer os meus olhos e eu não sabia porquê. Olhei para baixo e vi a minha barriga enorme. Estava grávida de um menino. Tomás. Queria eternizar aquele momento em que estávamos ali, todos abraçados expressando por gestos o amor e a felicidade que sentíamos por nos termos uns aos outros.


Leonor! Leonor... Leonor!!!

Acordei. A Dra. chamava-me para conversarmos.

- Peço imensa desculpa por ter adormecido Dra. Cátia.
- Não tem qualquer problema. Eu compreendo perfeitamente que estes dias não têm sido fáceis para vocês e é perfeitamente natural que por vezes o cansaço leve a melhor.
- Como está ela Dra?
- Bem, temos boas notícias. Ela está a fazer progressos a passos largos, se continuar a evoluir desta forma poderá voltar para casa dentro de dois dias.
- Oh meu Deus!, que bom. Muito obrigada por todos os esforços que foram realizados para ela ficar bem.
- Não tem de agradecer. É com todo o prazer que realizo o meu trabalho e fico muito feliz por a Ariana voltar bem para casa.

Abandonei o hospital com um sorriso no rosto. Corri para casa para dar as boas novas a Tiago e dizer-lhe para ir passar a noite com Ariana. Entrei em casa de rompante e subi as escadas apressada tropeçando nos meus próprios passos.

-Tiago! Tiago. - Ele apareceu à porta com Anita ao colo perdido no sono.
- Que se passa Amor, está tudo bem com a bebé?
- Sim, sim. Está tudo óptimo. Ela está a recuperar muito bem e em principio volta a casa daqui a dois dias.

Tiago sorriu e abraçamo-nos os três felizes pele noticia. Tudo ia ficar bem. Nós iamos ficar todos bem e em breve estaremos os quatro juntos num momento tão perfeito quanto o meu sonho...

Continua...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Chamamento do amor #3



«Dormia um sono tão descansado que não queria acordar. Não queria que aquele momento terminasse, queria permanecer ali com ele infinitas horas. Não queria que ele fosse embora. Sentiria tanto a falta dele que só me apetecia esconde-lo debaixo da cama e não deixa-lo partir. Mas ele tinha responsabilidades, e… Tiago. Eu tinha que compreender. Não podia ser egoísta ao ponto de apenas pensar somente naquilo que iria sentir.
Sentia-me confortável nos seus braços. Protegida. Segura. Estava tão aconchegada nele que sentia que éramos um só. O seu respirar no meu pescoço voltava a deixar-me arrepiada porém, a sensação era maravilhosa.»

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sussurro ao mar #35

O desespero que eu sentia era excruciante. Ver a minha menina ali, ligada ás máquinas e sem qualquer conhecimento daquilo que aconteceria deixava-me sem fôlego.

- O que aconteceu é o que normalmente acontece quando existe uma gravidez de gémeos. O que eu quero dizer é que esta pequenina desenvolveu mais, ou seja, roubou, por assim dizer, alguns nutrientes à irmã, daí estar mais desenvolvida e terem havido algumas complicações durante o parto. Os pulmões da Ariana não estão completamente desenvolvidos por isso é que ela tem certas dificuldades em respirar. Ela terá de ficar uns tempos ligada àqueles aparelhos para que os pulmões acabem de se desenvolver e aí poderá voltar com vocês para casa. Por enquanto está tudo bem, ela estabilizou e não corre perigo de vida, podem ficar descansados - e sorriu cheia de simpatia e compaixão pela situação que estávamos a passar. Eu sentia que podia respirar de alívio, mas mesmo assim tinha medo, queria estar perto da minha menina pequenina e não largar a sua mãozinha nem por um segundo.

Tiago agradeceu à doutora e fomo-nos colocar perto de Ariana. Ela dormia descansada como sempre, mostrava-se tão pacífica com o seu rosto angelical. Como iria eu conseguir estar perto da minha menina sem poder pegar-lhe ao colo? Anita acordava agora espreguiçando-se e levantando os seus pequenos bracinhos na minha direcção. Peguei-lhe dando-lhe um beijinho na testa e encostei-a a mim para que pudesse sentir o seu perfume de bebé. Ela comeu satisfeitinha e depois voltou a adormecer no colinho do papá. Ele era-lhes tão dedicado, notava-se a quilómetros o quanto ele as amava e eu, ali ao lado dele, sabia a aflição que ele sentia ao ver a nossa menina naquela situação...

Continua...

sábado, 5 de março de 2011

Sussurro ao mar #34



Tiago saiu apressado em direcção ao hospital deixando-me em casa sozinha com as meninas. Como elas eram calminhas não iriam haver quaisquer problemas. Deitei-me na chaiselong que havíamos colocado perto dos berços das meninas. Estava tão cansada fisicamente que sentia que se caísse no sono iria ser difícil de acordar. Fechei os olhos por uns instantes; as meninas dormiam e se elas acordassem eu ouviria. Sentia o sono límpido e calmo que me chegava; deixei-me levar por ele... Através do sono chegava o sonho, um sonho escuro onde tudo o que se ouvia era o choro sufocado de um bebé. A minha aflição de mãe começou a surgir e exaltada procurava de onde chegava aquele som. Sentia-me perdida no meio daquela escuridão. Escuridão esta que não me permitia sequer ver um palmo à frente dos olhos. Escuridão esta que me aterrorizava e afligia. Acordei sobressaltada ao perceber que todo aquele choro sufocante não fazia parte do sonho mas sim da pura realidade. Corri para Ariana que mexia os pequenos bracinhos e chorava já sem conseguir respirar. As lágrimas desciam agora pelo meu rosto e o meu coração batia forte com o medo. Liguei para o 112 e cinco minutos depois a ambulância havia chegado. Começaram a ventilar Ariana para que os seus pulmões não ficassem despromovidos de ar e no caminho para o hospital, com Anita ao colo, liguei a Tiago exaltada e a chorar desalmadamente.

- Amor, o que se passa? Porque é que estás a chorar? Passa-se alguma coisa com as meninas? - Perguntou preocupado.
- É a Ariana amor. Adormeci por uns momentos e quando acordei ela estava sufocada no próprio choro com os bracinhos no ar como em pedido de ajuda. É tudo por minha culpa, nunca deveria ter adormecido - disse enquanto o meu choro se intensificava. - Chamei uma ambulância, estamos a caminho do hospital. A Anita está a dormir sossegadinha. Por favor, anda ter connosco...
- Eu estou a caminho, eu estou a caminho. Tem calma que vou para a vossa beira - e desligou o telemóvel. Percebi pelo tom da sua voz que estava tão nervoso e com tanto medo como eu. Algumas das suas hesitações mostraram-me que as lágrimas também o ameaçavam.

A ambulância parou à porta das urgências e uma médica nova acompanhada por uma enfermeira de meia idade correram na nossa direcção. Após trocarem algumas palavras com os paramédicos levaram Ariana para dentro e eu corri com Anita atrás delas.

- A mãe tenha calma. Nós já vimos trazer-lhe novidades. Sente-se aqui um pouquinho. Alguma coisa que precise dirija-se aquela senhora ali - disse carinhosamente.

Sentei-me nervosa ansiando a chegada de Tiago. Os meus olhos estavam fixos na porta, as minhas lágrimas continuavam a cair pouco acolhedoras. Uma senhora observava-me com pena a saltar-lhe do olhar; era a senhora que a médica me havia indicado anteriormente. Ela dirigiu-se a mim:

- A menina necessita de alguma coisa? Talvez um copo de água com açúcar? - Perguntou amavelmente.
- Se não se importar eu agradecia muito.
- Não é incomodo nenhum minha querida, eu volto já.

Os meus olhos voltaram-se para a porta novamente inquirindo-se se Tiago ainda se demoraria. Eu estava nervosa, precisava que ele me abraçasse. Anita continuava a dormir sossegadinha, mas pouco deveria faltar para que acordasse pois estava quase na hora de ela comer. Tiago entrou a correr pelas portas do hospital e vendo-me senti a aflição no seu olhar. Ajoelhou-se a meu lado e acariciou Anita.

- Como é que ela está?
- Não sei - disse chorando com mais intensidade - a médica levou-a lá para dentro. Vieram a ventila-la na ambulância. Amor - retorqui quase sem fôlego - tenho medo. - Ele abraçou-nos ás duas e as lágrimas começaram a correr pelo seu rosto.

A senhora voltava agora com o copo de água. Tiago sentou-se na cadeira ao meu lado e segurou a minha mão junto da dele.

- Aqui tem a águinha minha querida. O senhor é o pai da menina? Não se preocupem. Os melhores médicos do país estão neste hospital e tenho certeza que irá correr tudo bem - informou-nos virando as costas com um sorriso aprazível no rosto.

Peguei no copo e só aí reparei no quanto as minhas mãos tremiam. Não confiava na minha força por isso entreguei Anita nos braços de Tiago enquanto tentava que aquela água açucarada me acalmasse. A médica chegava agora perto de nós. Parecia calma e tranquila. Será que isso queria dizer que não haviam motivos para preocupações ou que este era o rosto que todos os médicos ostentavam, sendo a notícia boa ou má?

- Podem me acompanhar se fazem favor. Precisamos de conversar. Vou levar-vos até à vossa filha.

Seguimo-la por aqueles corredores neutros que sempre me atemorizaram. Pela janela vi Ariana ligada ás máquinas. Nesse momento o meu coração disparou e o meu choro intensificou-se cruelmente. Coloquei as minhas mãos na janela numa tentativa de chegar perto da minha menina pequenina. A dor que o meu coração sentia era a mais cruel que alguma vez tinha experimentado. As minhas forças escapuliam-se pelo meio dos meus dedos. Tiago abraçou-me e manteve-me debaixo do seu braço para que eu me segurasse e não caísse...

Continua...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Sussurro ao mar #33

Como estava tudo bem comigo e com as meninas fomos mandadas para casa, muito alegremente. Durante estes dias Tiago nunca havia saído de perto de nós; nunca, por um segundo que fosse, havia largado as nossas mãos. Anita e Ariana continuavam crianças sossegadinhas, dignas de verdadeiras princesas... Colocamos as cadeirinhas no carro e em menos de dez minutos encontrava-mo-nos em frente a casa de Tiago.

Sinto muito que não tenhas o apoio da tua mãe querida, não queria que as coisas resultassem desta forma - disse-me.
Não te preocupes amor, eu estou feliz contigo e com as bebés. Além de que ter o apoio do meu pai é suficientemente bom. Ele pôs-se à nossa disposição no caso de algo ser necessário.

Eu sabia que ele se sentia em baixo. Não só pela situação com a minha mãe mas essencialmente pela posição proeminente em que a sua mãe se encontrava. Entramos dentro de casa e por breves instantes deparei-me com a ausência que ele sentia. A mágoa no seu olhar dava, consequentemente, ao meu coração uma pequena dor que não conseguia controlar. Esperançosamente expectava que tudo ficasse bem. Anita e Ariana dormiam para variar um pouquinho. Irónico como sempre dizem que os bebés choram imenso e não dormem bem quando as minhas meninas dormem sonos de anjinhos. Deita-mo-las cada uma no seu berço e sentada na ponta da cama perguntei:

Queres conversar?
Acho que não me sinto muito preparado para conversar sobre esse assunto, pelo menos não agora que as meninas acabaram de chegar a casa - ele havia percebido a que assunto me referia. Sempre fomos capazes de nos compreender muito bem tal pelo tom de voz, como pela escrita ou até mesmo pela forma de agir. - Mas sim, mais tarde gostaria de desabafar contigo princesa - sorri-lhe entusiasticamente sentindo ainda aquela dor a latejar sobre o meu peito.

Tiago havia ido ao carro buscar o resto das malas e as prendas que nos haviam sido oferecidas quando ouvi o seu telemóvel tocar. Sendo um número público que tocava, atendi. Tiago chegou e ao ver-me com seu telemóvel mimou as palavras 'O que se passa?' . Desliguei o telemóvel boquiaberta.

Pediram a tua comparência no hospital. A tua mãe acordou...

continua...

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #32


Estava preocupada com a reacção que os meus pais teriam à minha decisão de permanecer junto a Tiago. Eu tinha uma vida diferente agora; era mãe e estava a caminho de me casar. Está na altura de começar uma vida nova e diferente, com diferentes ideais, sonhos  e objectivos... será que os meus pais entenderiam isso?! Ariana e Anita eram duas bebés saudáveis e sossegadinhas; eram raras as vezes em que choravam e tanto eu como Tiago só queríamos mima-las. Perdida nos meus pensamentos ouvi um leve bater na porta. Desviei o meu olhar da janela para ver quem entrava:

- Mamã...
- Filhota, como estás?
- Bem, e tu?
- Ah!, que meninas tão belas, tão perfeitas... São tão parecidas contigo quando eras bebé!
- Mamã, precisamos de conversar.
- Diz querida, passa-se alguma coisa?
- A minha vida é diferente agora mamã, eu tenho novas responsabilidades e eu e Tiago iremo-nos casar em breve. Eu não vou voltar para o Porto. O meu lugar e o lugar das minhas filhas é aqui, com Tiago. Eles são a minha família agora...
- Mas Leonor... Não acho de todo que essa decisão seja a mais acertada. Nesta nova fase em que és mãe deverias ficar perto de mim para que tudo eu te pudesse ensinar.
- Mas mamã, eu agora sei o que é ser mãe. Tenho o mesmo instinto protector que tu tens relativamente a mim, sei bem como cuidar das minhas bebés. Eu nunca as levaria para longe do pai, mamã... Eu sei bem o que senti quando o papá nos abandonou, não quero de forma alguma que os primeiros meses das minhas filhas sejam passados longe de alguém que é tão importante para elas.
- Não concordo com essa decisão minha filha. Se cá ficares não terás qualquer apoio da minha parte - e virou as costas saindo pela porta.

As lágrimas começaram a cair dos meus olhos magoados. Estava à espera de um grande apoio da parte da minha mãe e não um abandono. Mais uma vez um bater na porta voltou a entoar dentro do quarto. Limpei as lágrimas.

- Entre!
- Filha, como estás?
- Papá. Que bom que vieste, estava com saudades tuas.
- Eu também estava com saudades querida - e abraçou-me como se eu ainda fosse a menina dele.
- O que achas das tuas netinhas?
- São lindas como a mãe, disso não tenho quaisquer dúvidas. Por falar em mãe, como correu a conversa com a tua? Vi-a sair e não me parecia muito contente.
- Eu tomei uma decisão papá. Decidi permanecer aqui com Tiago e as meninas mas a mamã não concordou, disse que o meu lugar era perto dela. Mas eu não concordo! Eu não quero a Anita e a Ariana longe do pai e muito menos irei obrigar Tiago a vir unicamente devido a um capricho da mãe. A minha vida mudou papá...
- Eu compreendo filhota. Terás todo o meu apoio, disso não duvides.
- Obrigado papá, isso significa muito para mim.
- Mas querida, como ficará a faculdade agora?
- Eu vou ficar em casa este ano para cuidar das princesas mas para o ano vou-me inscrever e seguir o meu sonho papá. Sabes que se eu não tivesse engravidado que era para aqui que queria vir estudar, que era o meu sonho. Não desistirei nunca dele!
- Eu sei que não. Se precisares de dinheiro ou de alguma coisa não hesites em ligar querida. Estarei disponível 24 horas por dia. Agora se não te importas tenho de ir que tenho uma reunião marcada para daqui a duas horas. Posso vir visitar-vos na próxima semana?
- Claro que sim papá. Liga entretanto - beijou-me a testa e partiu.

Ter o apoio do meu pai surpreendeu-me acima de tudo porque sei o quão importante são para ele os estudos. Já a minha mãe surpreendeu-me negativamente porque apesar de ela não concordar com a minha decisão deveria, sempre, apoiar-me...

Continua...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #31


Nunca soube que ser mãe implicaria esta magnitude de sentimentos, nunca esperei que um arrepio surgisse vagando pelo meu corpo na primeira vez que sentisse a mão das minhas princesas agarrar o meu dedo... Olhei para Tiago e sorri, ele sabia o quanto eu estava feliz, tanto como eu sabia que ele estava em êxtase. Este era, sem sombra de dúvidas, um dos momentos mais importantes da minha vida e nada o poderia arruinar.

Amor, tenho que conversar com os meus pais sobre a minha mudança definitiva para cá. Não te importas de lhes ligar para que cá venham conversar comigo - pedi encarecidamente a Tiago.
Claro querida, vou já tratar disso - no fim destas palavras beijou-me e depositou um leve beijo na testa de Anita e Ariana que dormiam como dois anjinhos.

Fiquei a olha-las admirada por toda aquela serenidade, fascinada pelos seus encantos e observando, aos poucos, Anita despertar do seu sono de bebé arregalando os seus pequenos olhos verdes. Ficou muito quietinha a olhar para mim e foi estendendo a sua mãozinha na minha direcção. Aquele gesto emocionou-me e fez com que me levantasse cuidadosamente e a acolhesse em meus braços. O seu cheirinho de bebé deixava-me maravilhada e a sua pele suave dava-me vontade de nunca mais larga-la. Olhei para Ariana que continuava pegada no seu soninho e aproximei-me com Anita ao colo... Passei o dedo pela sua pequena testa sentindo a textura daquela pele de recém-nascido. Tiago aproximou-se pela minha retaguarda e abraçou-me fazendo-me sentir tão segura quanto somente ele conseguia.

Já liguei aos teus pais. Eles estão a caminho devem chegar dentro de uma hora e meia - disse.
Obrigado amor - retorqui lançando-lhe um breve sorriso de agradecimento.

Anita, que descansava no meu ombro, havia adormecido e eu voltei a coloca-la, descansadamente, na caminha. Sentei-me no cadeirão perto da janela reflectindo sobre todas as mudanças pelas quais a minha vida tinha passado e fazendo um apanhado dos prós e contras. Mas a verdade é que para mim apenas existem prós porque apesar de ter de deixar a faculdade em stand-by tenho as duas filhotas mais lindas do mundo, um namorado que me ama acima de tudo e em breve terei o dia com que à tantos anos sonho... O que mais uma mulher poderia pedir além de felicidade e amor? Nada. Sinto-me completa, extasiada, maravilhada com esta nova essência que, agora, faz parte da minha vida...

Continua...
(peço desculpa pela demora nas publicações da história,
mas tenho andado meia perdida em trabalhos e complicações cá por casa!
No entanto, o namorado pediu por isso fiz um esforcinho por ele e por vocês para escrever algo hoje.
Sei que não tem tanto conteúdo ou excitação como anteriormente,
mas penso que serão partes importantes para o desenvolvimento da história
e acima de tudo espero não estar a desapontar-vos)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Caixa de Segredos #1


Sempre fui uma pessoa que se liga apaixonadamente às memórias. Sempre vivi recordando bons momentos, pessoas que passaram pela minha vida e que, de certa forma, contribuiram para que esta mudasse, para que se tornasse melhor... Por entre caixas e caixas escondo as minhas lembranças, palavras ditas em vão descansam em páginas que há muito se encontram fechadas, imagens que poderiam falar por si mas que com o passar do tempo foram perdendo o valor que um dia haviam tido e pequenos objectos que, com um simples toque, passavam na mente imagens da minha vida.Vivi presa a esses momentos durante muito tempo acreditando com todas as minhas forças que foram os melhores anos da minha vida e que nunca voltaria a ter nada igual; a verdade é que consegui melhor. Sento-me na cama; pego numa das minhas caixas de segredos e perco-me entre sorrisos e lágrimas de momentos que um dia fizeram parte de quem sou. Sorrisos largos e risadas com a recordação de todas as perípecias, ditas e desditas e momentos que por breves instantes se haviam perdido algures num subconsciente entristecido surgem ligeiramente. Lágrimas de arrependimento, de uma certa 'perda' e de saudade surgem arrebatadoras mas nunca permitindo que o meu sorriso se dissipe. Sou assim, uma memória viva daquilo que fui e uma prova do quanto a vida pode mudar uma pessoa. Olá, sou a Mia e esta é a minha caixa de segredos...

(Esta foi uma ideia que me surgiu quando estava prestes a adormecer,
poderá continuar consoante as vossas opiniões. O que acham?)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #30


Eu sofucava nos meus próprios gritos. Ninguém me dizia nada e a minha menina estava roxa; não respirava!A enfermeira trouxe rapidamente o ventilador. Deitaram-na e começaram a ventilar.

Eu estou aqui contigo amor, tem calma - pediu Tiago.
Não, não. Vai para a beira dela, não quero que esteja sozinha...
Mas Amor...
Vai Tiago! - Ordenei.

Ele foi para perto dela e colocou o dedo em cima da sua pequena mãozinha. Olhava para mim com um olhar perdido e repleto de mágoa. As lágrimas surgiam fortes e descontroladas; ele chorava comigo. De repente desviou o olhar de mim para ela e depois para a sua mãozinha. Ela estava a apertar o dedo dele e pela primeira vez chorava tal e qual uma bebé recém nascida.

Ariana, - disse - quero que se chame Ariana; pela força que teve, pela guerreira que é...

Tiago olhou-me nos olhos sorrindo e chorando de emoção... Pela grande porta cinzenta entrava a enfermeira com a coisinha mais pequenina e rosinha à face da terra. Estava calminha, não chorava e tinha os traços de Tiago, como eu sempre desejara. A enfermeira depositou-a nos meus braços e eu olhei nos olhinhos dela sentindo pela primeira vez o tal Amor de Mãe.

E Anita, pela calma e serinidade...

Levaram Ariana para que a limpassem e vestissem; mais tarde eu tinha nos braços as  minhas duas princesas e o homem da minha vida. Se poderia pedir mais? Não, eu sou feliz!

Continua...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #29


Acho que os meus berros se ouviram na maternidade inteira porque segundos mais tarde o médico apareceu batendo à porta.

Leonor? Como se encontra?
Prestes a explodir, por favor ajude-me.

Acho que o desespero e a dor se pronunciaram por mim, voltei a gritar inconscientemente e ao olhar para o pequeno ecrã o médico determinou que estava na altura das minhas meninas nascerem. O médico chamou os ajudantes que transportaram a minha cama ao longo de um enorme corredor coberto por paredes brancas e luzes incandescentes que ofuscavam a minha visão. O elevador desceu rapidamente e quase não senti o seu movimento. Levaram-me de imediato para a sala de partos e apesar do nervosismo imenso que me atacava ter o Tiago ao meu lado, com a sua mão colocada sobre a minha acalmava-me consideravelmente. O pessoal médico aguardava a minha chegada já com tudo a postos. O médico sentou-se ao fundo da cama; eu já suava por todos os lados e tenho bem noção da força que aplicava sob a mão de Tiago.

Leonor, quando eu lhe disser faça a maior força que conseguir.

Escutei o médico atentamente tentando concentrar-me em algo que não aquela dor excruciante.

Faça força Leonor.

Apliquei a maior força que podia; agarrada à mão de Tiago para que a força dele fosse a minha e para não me esquecer que ele estava ali comigo, a apoiar-me, como sempre! Minutos mais tarde ouvi o choro de uma bebé que vislumbrei brevemente. Aquele era o som que todas as mães queriam ouvir. Levaram-na para que a limpassem e para que mais tarde ela podesse permanecer, angélicamente, sobre os nossos braços.

Vá Leonor, mais uma vez para a próxima pequena.

Voltei a agarrar-me a Tiago e fiz tanta força quanta podia naquele momento. Vi a pequena que permanecia nos braços do médico, ele olhava para ela mas... ela não chorava. Eu não ouvia a minha menina.

O que é que se passa? Porque é que ela não chora?
Tragam um ventilador... Rápido!

Continua...
(Dedico esta partezinha ao namorado pelo apoio q deu a mim)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #28


O tempo passava... rápido de mais até. Apesar de já terem passado três meses a mãe do Tiago ainda continua no hospital e a família não tem coragem de desligar as máquinas pois há um mês atrás houve indicios de actividade cerebral. O Tiago tem andado em baixo e eu costumo ir a casa aos fins-de-semana visitar os meus pais mas o meu tempo é passado aqui, dando todo o meu apoio a quem mais dele necessita. Eu sei que ele se sente melhor quando estou por perto, tal como eu me sinto mais segura na sua presença. Eu estava a acabar de arrumar o quarto quando sinti uma dor pontiaguada no fundo da barriga. Agarrei-me a mim mesma tentado controlar aquela pontada dando conta, por fim, que tenho água a escorrer pelas pernas. Entrei em pânico; o Tiago não estava e eu não queria passar por esta situação sem ele. O que é certo é que ainda faltam umas semanas para as pequenas nascerem mas parece que não querem esperar mais. Com alguma força pus-me a pé e peguei no telemóvel que tinha dentro da carteira. Marquei rapidamente o número do Tiago:

Amor... Preciso que venhas para casa; rápido!
Está tudo bem fofinha? O que se passa? - Perguntou ele preocupado.
Arrebentaram-me as águas.

Só ouço o pi..pi..pi indicando o fim da chamada. Pego na pequena malinha, que já algumas semanas tinha preparado, e desço as escadas aguardando a chegada de Tiago. Ouço o chiar dos pneus e o seu passo acelerado que abrem a porta de rompão.

Amor, vamos. Tens tudo preparado? Não falta nada.
Podemos ir fofinho.

Ele colocou o braço em minha volta ajudando-me a caminhar. Sentou-me no banco de trás do carro e pôs prego a fundo rumo à maternidade. Parou o carro à porta das urgências e uma enfermeira loira de olhos castanhos e silhueta desmedida vem a nosso encontro trazendo uma cadeira de rodas. Tiago estaciona rapidamente o carro e volta a correr para junto de mim. Fui levada para um quarto privado onde me trocaram as roupas e me colocaram confortavelmente sobre uma cama.

A doutora vem a caminho, aguarde um pouco - disse a enfermeira.

As contracções tinham diminuido e eu respirava calmamente. Tiago permanecia ao meu lado, segurando a minha mão com a sua e mantendo a outra em cima da barriga para acalmar as nossas meninas; nós sabiamos o quanto esse gesto as acalmava. Quando menos esperei as contracções voltaram e mais fortes do que anteriormente. A dor era forte, provocadora e eu só queria que ela parasse. Gritei! Dói de mais...

Continua...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #27


Quando a música parou e a aparelhagem mudou de cd continuando com a mesma música calma e romântica ele pegou em mim ao colo e colocou-me suavemente sobre a cama... Deitou-se carinhosamente ao meu lado e colocou o braço à minha volta. Virei-me para ele para que os nossos olhos se encontrassem sem qualquer entrave. Os seus lábios aproximaram-se dos meus e beijaram-me com toda a ânsia que o seu corpo envergava; a sua mão quente de toque suave subia pelas minhas costas acarinhando a minha pele. Com uma mão apenas ele desapertou os pequenos ganchos do meu soutien para que podesse livremente perscrutar aquela parte do meu corpo. O nosso amor fluia livremente, a paixão desenfreada corria pelos nossos corpos em forma de desejo e os nossos corpos tocavam-se criando pequenas sensações de prazer. Mais tarde, depois do nosso amor ter 'explodido' ficamos aninhados um no outro sentindo aquele calor que emanava da nossa pele e o coração que batia atrevido. Adormecemos; ele agarrado a mim em forma de protecção e eu aninhada em seu peito sentido todas e quaisquer emoções...

Continua...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #26


Apesar de estar um pouco mais solto eu conseguia sentir as tristes emoções que transbordavam de seu coração.

Amor, já é tarde... Vamos descansar? - Perguntei.

Ele assentiu com a cabeça e depois de inspirar longa e profundamente aquele ar frio e calmante e de deitarmos um breve olhar àquela paisagem que fizera parte do nosso dia viramos costas e andamos alguns metros em direcção ao carro. Dirigi-me novamente para o lado do condutor e enquanto abria a porta:

Fofinha... deixa estar. Eu já estou melhor para conduzir!

Aproximou-se de mim e segurou a mão que eu tinha depositada sobre a porta beijando-me levemente. Abracei-o; sabia bem o quanto os meus abraços o tranquilizavam e o que significavam para ele além de que sempre me sentira bem na fortaleza que eram os seus braços. Dei a volta ao carro e sentei-me no lugar do passageiro apertando o cinto de segurança. Ele arrancou conduzindo com o mesmo cuidado que sempre tivera. Percorremos o caminho de volta a casa dele e nem dei pelo passar do tempo. A mão dele segurava a minha e por vezes, em certos momentos, eu sentia a sua tensão de cada vez que com mais força ele a apertava. Eu sabia que ele não dava conta, mas também a força exercida não era suficiente para haver um queixume da minha parte. A viagem foi passada com os olhos depositados nele por breves instantes e fixados na noite escura e temível que observava por entre os vidros do carro. A música tocava ligeiramente baixa e a minha voz era mais distinta de cada vez que cantava. Chegamos a casa rapidamente e a primeira coisa que ele fez quando chegou ao quarto foi ligar a pequena aparelhagem que tinha colocada junto à janela. A música era bastante leve e calma... Verdadeiramente digna de uma dança apaixonada. Sentei-me na cama cruzando as pernas e retirando o pequeno lenço que continha nas costas. Ele ajoelhou-se à minha frente e retirou-me as sabrinas. Pegou na minha mão depositando-lhe um beijo quente e sincero. Puxou o meu corpo para junto do seu e começou a balançar o seu corpo ao ritmo lento que a música lançava naquele espaço. Encostei-me bem a ele apesar da barriga nos separar por alguns centímetros e segui-o ao ritmo daquela dança! Encostei a cabeça ao seu peito quente e senti o romântismo que o momento envergava. Não queria terminar com aquele precioso instante, queria mantê-lo sempre presente no meu coração. Naquele momento decidi que me manteria ali, perto dele, enquanto aquela situação devastadora não cessasse; dar-lhe-ia todo o meu apoio e estaria constantemente ao seu lado... Ele é a minha vida e eu não quero que ele perca a sua alegria de viver...

Continua...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #25


Ele não estava bem... O choro dele era incessante e até as nossas bonequinhas estavam a ficar irrequietas.

Queres que vá contigo ao hospital? - perguntei carinhosamente.
Não, - retorquiu ele bruscamente - não quero que vocês estejam sujeitas àquele tipo de ambiente.

Eu compreendi a sua indignação; ele não nos queria perder, não nos queria colocar naquela situação. Voltamos para junto da estação para ir buscar o carro e como ele estava bastante nervoso conduzi eu. Sabia que ele precisava de se acalmar e de respirar profundamente por isso, sem nada lhe perguntar, dirigi rumo à praia. Apesar de serem alguns quilometros de distância chegamos lá relativamente rápido. Quando estacionei o carro ele olhou para mim com uma expressão interrogatória no rosto.

Achei que precisavas de um local calmo, com uma leve brisa que esvaziasse o teu coração e a tua mente de toda a angústia e indignação...

Ele abraçou-me e eu receei que as lágrimas voltassem a perscrutar o seu rosto. Saimos do carro e colocamo-nos de frente para o mar... Ele aproximou-se pela retaguarda e segurou-me nos seus braços permitindo que eu sentisse a sua respiração nervosa aquecer o meu pescoço. Ficamos a mirar aquela paisagem sem que uma única palavra fosse pronunciada, eu sabia que ele precisava de mim e do meu apoio e que as minhas palavras não seriam capazes de o tranquilizar ou de alterar significativamente a situação em que ele se encontrava. O tempo foi passando, as horas breves e bruscas passaram sem darmos conta e o pôr-do-sol surgia agora com toda a sua grandeza e formosura. Aquele fenomeno sempre nos havia deslumbrado desde o primeiro dia, isso não se havia alterado depois deste ano e meio que passamos juntos. Liguei para casa a avisar do sucedido e a dizer que permaneceria com Tiago. Os meus pais mandaram todo o seu apoio e disseram inclusivé que telefonasse se algo fosse necessário. As estrelas foram surgindo no céu brilhantes e magestosas e nós permanecemos a mirá-las... Por entre beijos trocados e juras de amor a tristeza dele foi findando e a calma começou a percorrer o seu corpo. Eu amava poder trazer junto dele toda a calma que ele precisava e nos momentos certos a agitação de uma paixão afogueada e ardente...

Continua...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #24


O choro dele tornava-se agora no meu. Ver as lágrimas que escorriam pelo seu rosto marcado por feições de tristeza e amargura faziam-me chorar também. Havia-me sentado no banco há alguns segundo quando ele se pos a pé. Devido à barriga que crescia mais a cada dia não conseguia manter as pernas correctamente fechadas; ele ajoelho-se no meio delas e encostou o ouvido à minha barriga. Ele escutava atentamente todos os pequenos sonzinhos e acarinhava docemente as suas filhotas; sussurrava conversando com elas; apercebi-me que conversava sobre o que sentia. Levantou a cabeça olhando tão pronfundamente nos meus olhos que era capaz de me penetrar com o seu olhar «Eu não vos quero perder» . As lágrimas caíam e a minha preocupação aumentava a cada segundo. Encostei a sua cabeça ao meu corpo em sinal de um pequeno abraço; sabia que ele estava a precisar. Ele levantou-se e pegou na minha mão; levantei-me.

Amor, não te importas que caminhemos um pouco? Se estiveres cansada eu compreendo.
Eu estou bem principe, podemos sim caminhar um pouco - respondi.

Caminhamos para fora da estação e dirigimo-nos à estrada que se encontrava ao longo da orla da floresta. O choro tinha cessado e ele segurava agora a minha mão com bastante força. Quando a respiração ofegante tinha obtido um fim começou a falar calmamente:

Ontem... ontem a minha mãe foi de urgência para o hospital. Estava bem ela, mas de um momento para o outro começou a sentir uma dor forte e excruciante na cabeça e não conseguia mover bem o braço esquerdo. Teve um AVC! - As lágrimas voltavam cruéis. - Foi tudo muito inesperado e os médicos não sabem o que poderá tê-lo causado. Como as defesas estavam demasiado em baixo ela ainda não conseguiu recuperar; está em coma. - As lágrimas tornavam a sua respiração ofegante.

Abracei-o forte. Ficamos parados na berma da estrada. Ele abraçava-me não largando nunca a minha barriga.

Os médicos não dão esperanças se ela não acordar nas próximas 42 horas amor.
Não chores, nós estamos aqui contigo. Vamos torcer para que tudo fique bem - sorri sabendo que nada do que dizia o tranquilizaria, sorri entristecida por ver que o seu coração se estava a despedaçar, sorri sem saber como fazê-lo sentir-se melhor.
Eu amo-te principe...

Continua...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #23


O Tiago ligou-me hoje de manhã... Foi bom acordar com o som da sua voz, com tamanha meiguice e carinho.

Como estão as minhas três meninas? - perguntou ele do outro lado da linha.
Mortas de saudades tuas meu Amor. - Ele sorriu. Eu consegui perceber no tom da sua voz que, apesar de meigo, possuia no fundo uma certa seriedade e importância.
Passa-se alguma coisa? Queres falar? questionei abertamente.
Quero sim Amor. É algo em que tenho andado a pensar e não quero adiar esta conversa por mais tempo - ao som destas palavras o alarme que existia dentro da minha cabeça disparou e a preocupação foi surgindo, exaltada.
Sim...
Tu sabes que és a mulher da minha vida, - começou - a mãe das minhas meninas e quem eu mais amo e ... eu quero casar contigo. Queria que, depois das princesas nascerem, dessemos esse passo que ambos sabemos que é muito importante para nós. O que achas? - As minhas emoções estavam aos saltos e as minhas filhotas estavam igualmente entusiasmadas com o tema da conversa; os papás iam casar.
Amor, por momentos assustaste-me. Claro que quero casar contigo. E acho que seria óptimo que o fizessemos após o nascimento das meninas. Mas sabes que já não falta muito tempo e que teremos muitos assuntos a tratar, mas estou completamente disposta a completar esta fase e dar um passo em frente em direcção ao nosso futuro e à formação da nossa vida juntos - eu sentia que ele estava emocionado, e percebia o quanto aquele momento significava para ele. Sabia que ele sentia tanto a nossa falta como nós sentiamos a dele por isso não hesitei e perguntei. - Amor... O que achas de ir ter contigo e passarmos o dia juntos? - A respiração dele parou e senti que ele ficou um pouco perplexo. - Amor?
Estou aqui bebé... Sim, acho que hoje podemo-nos mimar inteiramente um ao outro. Queres que te vá buscar?
Não amor - respondi - eu apanho o comboio. Entretanto vou-me preparando. Até já. Beijinho nos teus lábios. Amo-te muito!
Amo-te muito princesa - exclamou.

Desligamos a chamada e depois de um duche rápido e de um pequeno-almoço reforçado parti em direcção à estação. Quando abandonei a carruagem ele estava a minha espera; estava perfeito com a sua tez morena e com o cabelo que esvoaçava sensualmente ao sabor da brisa. Aproximei-me sem ele dar conta. Abaixei-me devagar e reparei nos seus olhos ostentados por lágrimas. Encostei a sua cabeça ao meu peito e apertei-o contra mim.

Amor? Estás bem? O que é que se passa? Estás-me a deixar preocupada!

Com o meu abraço ele não foi capaz de controlar o choro e as lágrimas puras que dos olhos dele caíam molhavam agora o meu ombro descoberto.

Estou aqui contigo. Não irei deixar-te sozinho!

Ele agarrou-me com toda a sua força durante breves minutos; afastou-se e acarinhou a minha barriga...

Não me deixes...
Não te posso perder a ti também - disse ele por entre o choro, ofegando e sentando-se para não perder as forças - fica comigo fofinha!

Continua...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sussurro ao mar #22


São gémeas! Duas princesas lindas... Eu e o Tiago não conseguimos parar de sorrir; a felicidade é tão extrema que me sinto quase a explodir. Bem que me diziam que a minha barriga estava demasiado grande para quem estava de cinco meses.

Mas como não se viu antes que eram gémeas? - perguntei entusiásticamente à Dra.
Elas estavam a esconder-se uma à outra. Não se vê logo que são umas brincalhonas? - sorriu.
Mas está tudo bem? Estão as duas igualmente desenvolvidas? - questionou Tiago.
Apontando para o ecrã respondeu - Estão a ver esta pequenina? Ela é um bocadinho maior, mas a diferença é pouca. Elas estão equiparadas - sorriu abertamente.

Sentia-me maravilhada, só queria comprar aquelas coisinhas pequeninas, fofinhas e cor-de-rosa. Perguntei ao Tiago se ele tinha tempo e se queria vir às compras comigo. Ele também estava entusiasmado e aceitou prontamente. Fomos almoçar à beira-rio e passamos a tarde rodeados das coisinhas mais doces, sentiamo-nos ainda mais completos. Viemos para casa cheios de sacos; o dia havia sido perfeito...

Continua...